Mente ativa na terceira idade

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Com o avanço da idade, perdemos um pouco da nossa capacidade cognitiva. Como podemos estimular nosso cérebro?

As perdas observadas durante o processo de envelhecimento apresentam variabilidade de pessoa para pessoa (estudos demonstraram que a herança genética é responsável por somente 1/3 da saúde geral na velhice, enquanto os restantes 2/3 são determinados pelo estilo de vida!). As perdas mais comuns relacionam-se à memória e referem-se a tarefas que exigem atenção, concentração e foco, rapidez e raciocínio indutivo. Os idosos tendem a apresentar leve lentidão e perda de precisão, o que faz parte da senescência, que é o processo de envelhecimento normal. Para melhorar o desempenho das áreas em que se iniciam as perdas, há várias formas de se estimular o cérebro, com estratégias simples de se fazer sozinho e muito eficientes. Porém, as pessoas dificilmente as realizam por acharem que são chatas ou cansativas. Para esse público, o terapeuta desenvolve um programa de atividades prazeroso, desenhado de modo personalizado que realizarão juntos no consultório (e também em casa, se desejar) de acordo com suas preferências e expectativas.  Já para os mais disciplinados, que conseguem trabalhar sozinhos, seguem algumas dicas:  estratégias de memorização (repetir, rimar, categorizar, guardar as primeiras letras, produzir imagem mental, escrever e reler várias vezes, associar, encadear última letra da palavra com a primeira letra da próxima, etc.); de estimulação da criatividade (sair da zona de conforto e fazer diferente aquilo que se faz todo dia: mudar o trajeto, usar palavras diferentes nas frases repetitivas e chavões do dia-a-dia, ler de ponta-cabeça, escovar os dentes com a outra mão, identificar um objeto no escuro, etc.); ampliar a capacidade de aprendizado (revisitar um pré-conceito: determinar-se a enxergar uma idéia, pessoa ou situação por um novo ângulo, desenvolvendo grande curiosidade por novas e distintas fontes de informações acerca do tema), etc. Já para os idosos que apresentam perdas acentuadas, faz-se o rastreio cognitivo para detectar e identificar quais os deficits existentes e, a partir do resultado, um treino específico é delineado.

Pensando na preocupação de manter a mente ativa, que cuidados devemos ter com o avanço da idade?

Maior escolaridade está relacionada a melhor desempenho cognitivo, o que sugere que a manutenção de atividade intelectual é forte componente da preservação tanto da memória quanto do raciocínio. Manter-se ativo física e mentalmente é a melhor forma de contribuir para que o bom desempenho cognitivo perdure ou até mesmo se desenvolva. Recomendo que as pessoas tenham sonhos e não deixem de investir em novos projetos. Ter uma meta diante de si enche de motivação e faz muito bem à saúde geral. Uma rotina diária de atividades, seja atividade remunerada, voluntária, acadêmica ou outra, com prática de atividade física regular também é importante. Ter atividade intelectual (leitura, cursos diversos, conhecer novas tecnologias, jogos de tabuleiro ou videogames, palavras cruzadas, sudoku e jogos de lógica), variabilidade comportamental e social (para quem gosta) com interação social na família, escola, trabalho, amigos), isto é, não ficar inativo.

Exercícios físicos também ajudam a manter a mente ativa?

Sim, pois tornam a pessoa mais disposta e alerta, mas precisam ser desenhados individualmente para que sejam praticados com intensidade, continuidade e tempo de duração adequados a cada pessoa, de modo a produzir a saúde cardiovascular, o condicionamento físico geral e a vitalidade desejados. Devem contemplar tanto os exercícios aeróbios quanto os resistidos (musculação).

A alimentação faz diferença nesse caso? Se sim, que alimentos são importantes nessa fase? E que alimentos devem ser evitados?

Sim, pois o metabolismo basal decai e algumas condições específicas de saúde individual podem demandar algum cuidado na escolha dos alimentos. Uma dieta inadequada poderá produzir indisposição, sonolência e mal-estar, desmotivando a pessoa e reduzindo o desempenho cognitivo. Cada pessoa deve ter sua dieta orientada por nutricionista de acordo com seu estado nutricional, mas algumas dicas valem para a maioria dos casos: Fazer várias pequenas e leves refeições ao longo do dia, com intervalo máximo de três horas entre uma e outra; mastigar bem e comer devagar; hidratar-se adequadamente e evitar frituras, enlatados, junk food e embutidos, açúcar, gorduras e álcool. Incluir alimentos integrais e de origem orgânica nas refeições diárias, mastigando muito bem para facilitar a digestão.

Atividades em grupo oferecem resultados melhores?

O convívio social tem sido descrito como importante preditor de motivação entre os idosos institucionalizados e observa-se que sua rede social tende a empobrecer com o avanço da idade. Por isso, são bastante indicadas por estimular as pessoas a participarem de jogos e atividades lúdicas com finalidade de estimulação cognitiva. Mas é apenas mais uma possibilidade, pois cada pessoa é única e, assim, precisa ser conhecida e ter suas necessidades cognitivas diagnosticadas individualmente. Uma pessoa mais introspectiva pode ressentir-se caso o convívio grupal seja imposto e não deve ser forçada a ele, mas sim ter suas preferências pessoais respeitadas de modo que suas atividades possam ser realizadas individualmente. Embora os profissionais de saúde resistam a admitir isso, algumas pessoas conseguem dar-se muito bem em sua própria companhia, são felizes assim e não parecem se beneficiar de socialização imposta por terceiros.

O que podemos acrescentar em nossa rotina para estimularmos mais o nosso cérebro?

É importante ter claro que diversas variáveis precisam ser levadas em conta quando se deseja obter boa qualidade de saúde mental e física, particularmente na idade mais avançada: é fundamental dormir bem, alimentar-se corretamente, praticar atividade física e ser flexível o suficiente para ir criando novas estratégicas e/ou comportamentos compensatórios à medida que forem identificadas mudanças no padrão da capacidade funcional. E, como prevenção, praticar atividades prazerosas em que se aprendam novas habilidades ou se desenvolvam graus de maior complexidade naquelas já adquiridas. Para isso vale jogos, novos idiomas, instrumentos musicais, qualquer atividade que exija alguma concentração e gere novos aprendizados e ampliação do repertório existente.

Na impossibilidade de atuar por si só, buscar ajuda de profissional especializado em gerontologia. Ele está apto a indicar a melhor terapêutica para cada caso. Os cuidados com o idoso que já apresenta queda na capacidade funcional demandam a atuação de uma equipe multiprofissional.

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Mariuza Pregnolato em entrevista ao jornal Previ.

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